30 de agosto de 2012

Sofá Vermelho

Eu, Luiz, no auge dos meus 29 anos nunca tive uma grande mudança na minha vida. Moro no mesmo apartamento há oito anos e sequer mudei os móveis de lugar. Completo 30 anos daqui a duas semanas e percebi que não fiz nada de importante até hoje. Sempre me considerei um cara tranquilo. Quer dizer, não fumo, bebo só em ocasiões especiais e nunca matei ou impedi alguém de fazer qualquer coisa. Sou praticamente invisível.
Não tenho um emprego decente, nem uma namorada e ainda por cima meu sofá é horrível. Um homem precisa de um sofá confortável para passar suas tardes entediantes de domingo assistindo aos jogos de futebol na TV. Mas apesar de não conseguir um novo emprego ou a mulher dos meus sonhos, ainda posso comprar um novo sofá. E foi isso que decidi fazer quando acordei naquele sábado. A semana tinha sido horrível, queria que meu chefe e todos daquela empresa morressem. Além disso, no dia seguinte o São Paulo jogaria e eu me recusava a assistir outros jogos naquele sofá horrendo. Não aguentaria mais uma derrota do time e nem aquele troço que ocupava espaço na minha sala.
Sai de casa e entrei na primeira loja de móveis que vi decido a escolher o novo sofá o mais rápido possível. O vendedor me mostrou um sofá vermelho com três lugares e estofado de couro. O que me chamou a atenção naquele sofá não foi só a maravilhosa sensação que tive quando sentei nele, mas sua cor. Sabe, como bom São Paulino que sou, o vermelho está entre uma das minhas cores preferidas, se é que posso dizer isso. Mas aquele vermelho cor de sangue me impressionou e em menos de meia hora já tinha comprado aquele móvel confortabilíssimo.
Quando o tão esperado sofá chegou o entregador começou a me fazer algumas perguntas estranhas querendo saber o porquê de ter comprado aquele modelo.
- O senhor sabe que esse é um modelo limitado, não sabe? – perguntou o entregador
- Bem, não sabia até agora.
- Só foram feitos dois modelos desse sofá na cor vermelha. Infelizmente o outro cliente faleceu duas semanas depois da compra.
- Nossa! Daqui duas semanas completo 30 anos e espero não receber a morte como um presente de aniversário.
- Sabe, o senhor me parece um bom homem. Talvez seja melhor eu lhe contar uma breve história e então quem sabe o senhor não desiste de ter o sofá.
- Pouco provável. Mas pode falar.
Foi ai que o misterioso entregador me contou que ele na verdade não era entregador coisa nenhuma. O cara foi casado durante dez anos e um dia encontrou sua mulher o traindo no sofá de casa com um colega de trabalho. Decidido a acabar com a vergonha que sentia, ele matou a mulher e o amante e decidiu fazer dois sofás em homenagem ao casal. Um com três lugares (o meu) e outro com dois. A explicação para o vermelho cor de sangue, bem era sague mesmo. Ele pegou o sangue da mulher e do amante e “tingiu” o tecido do estofado. De acordo com ele, o sofá que comprei era tingido com o sangue da mulher que sempre preferiu o com mais lugares.
Explicado o assassinato, ele contou que decidiu matar quem comprasse os sofás porque ninguém merecia estar na presença da ex-mulher ou do amante. Que o comprador da outra metade do sofá lutara um pouco por sua vida, mas que no fim acabou morrendo e o sofá foi queimado.
- Eu espero que o senhor entenda minha necessidade de acabar com isso, Sr. Luiz.
- Na verdade não entendo, mas também não o julgo – A esse ponto já estava tremendo e pensando em chamar a polícia.
- Agora que o senhor conhece a história do sofá não posso deixar que viva. Não ao lado de Magda. – Magda devia ser a esposa. – O senhor já amou, sabe o que quero dizer.
Quando ele me disse isso senti muita pena de mim mesmo. Tudo bem que o cara é um assassino, mas ele realmente amava sua mulher. A amou a tal ponto de não conseguir se imaginar sem ela. Por um momento senti que a minha vida até então inútil poderia servir para alguma coisa. Eu podia libertar aquele homem de sua dor e deixá-lo viver apenas com as boas lembranças dos momentos entre ele e Magda.
- Não converso com minha família e nunca amei de verdade – respondi friamente.
- Então o senhor não tem nada a perder. Por favor, deixe-me matá-lo e lhe garanto que Magda será livre finalmente.
São Paulo perdeu. Odeio meu chefe.
- Aposto que ninguém que eu conheço morreu por um sofá. Não antes dos trinta pelo menos.
- Estou ficando impaciente Sr. Luiz.
- Ok. Liberte Magda e queime este sofá.
Assim, eu, Luiz de 29 anos passei de um cara sem graça a alguém que libertou um homem de um amor. Quem diria que um sofá mudaria tanta coisa.


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